2/08/2009

Quanta ladeira!


Não consigo entender essa definição do Carnaval de Recife e Olinda como sendo uma festa de todos os ritmos, multi-cultural, quando é proibido tocar músicas baianas ou qualquer outro ritmo que não seja frevo, maracatu e caboclinho. Claro, MPB e pop.

Ora, e se eu for baiano ou carioca e quiser fazer minha festa ao som de axé ou funk não posso? Não posso exteriorizar minha cultura? Não defendo a música A ou B, defendo a liberdade de gostar do que eu quiser. A cultura pernambucana não é tão fraca ao ponto de deixar de existir graça a qualquer musicazinha da moda. Prova disso é o Carnaval da minha terra, Pesqueira, onde é liberado tudo e a população lá ouve em Fevereiro quase que somente músicas baianas do momento. Contudo, em todas as troças e blocos de menor porte e até mesmo no maior bloco da cidade o que prevalece é o frevo. E muito frevo! Ninguém fica parado ao som de um "Voltei Recife" lá em Pesqueira.

Se as autoridades mais nostálgicas não querem deixar uma tradição morrer que cuidem de investir na educação nas escolas, ensinar o que é ser pernambucano de fato e de direito! Eu tenho plena consciência de quais são as tradições do meu estado, não troco uma orquestra de frevo por nenhuma outra banda baiana, mas nem por isso deixo de comprar meus abadás no Carnaval e saí em blocos puxados por trios-elétricos baianos e me diverti bastante. Será que eu sou menos pernambucano por causa disso? Acho que não.

Como eu falei, isso é uma questão de educação. Novamente citando o exemplo de Pesqueira, lá as pessoas ouvem músicas de outros estados porque simplesmente é o que chega a elas. Não há interesse algum dos governantes de financiar show de uma Nação Zumbi ou de uma Orquestra Popular da Bomba do Hemetério de graça para a população, enquanto isso os empresários lucram cada vez mais produzindo shows de bandas da moda de qualidade duvidosa. Se só tem isso é pra isso que o povo vai, já diria Titãs "a gente quer comida, diversão e arte".

Se a atual gestão governamental de Recife quer continuar com essa palhaçada, que por sinal vem criando vários adeptos pelo Brasil, que continue. Mas vale lembrar que anos passados a prefeitura financiou por completo shows abertos ao público de Sandy & Júnior e Zezé di Camargo & Luciano, não esquecendo de Fat Boy Slim. Vai entender, né?

Por isso que o CD que eu mais tenho ouvido ultimamente é João do Morro que faz um samba puxando para a swingueira (ritmo baiano) que em suas letras contam o dia-a-dia de Recife como ninguém jamais conseguiu expor. Claro que jamais irei exaltar a cultura de outro estado frente ao meu estado, sou muito bairrista pra isso. E só lembrando que o axé e a swingueira da Bahia, o funk carioca e etc tem raízes diretamente ligadas aos ritmos afros assim como qualquer maracatu ou caboclinho. Há muita banda baiana e carioca que contam as histórias dos seus povos como ninguém, basta ter um pouco de boa vontade de ouvir.

E que venha o Carnaval.

8 Comenta aqui, campeão!:

Mayra disse... [Responder comentário]

É isso aí André, concordo com vc. Se o carnaval é uma festa multicultural, porque nao tocar outros ritmos??? Se carnaval é uma junção de alegria e cores , porque não juntar isso também nos ritmos. Já pensou numa boa banda de percussão afro tocando aqui na praça, Motumbá na cabeça. E outros. Tudo bem que devemos defender nosso Estado e Cultura, mas devemos estar abertos à diversidade em nossa volta.
Adorei o post, e vc como sempre escreve muuuitoo bem! Bjs! E até o rolamento!!

Luana Silva disse... [Responder comentário]

onde está a Bahia de todos os santos que tanto ouvimos?
Confesso que não sabia desse detalhe de não pode ouvir nada mais que as músicas de lá. Voltamos a ditadura e não sabemos? rs
E que venha o carnaval da minha rede. :)

Renatinha Lira ♥ disse... [Responder comentário]

é isso aí, e que venha o carnaval!
Me convida pra ir a Pesqueira!
Ano passado minha amiga foi e voltou namorando! ;)

adoroooooooo

Anine Surui disse... [Responder comentário]

Eu entendo o que você quis dizer. O slogan é falho mesmo. Eles deveriam ter deixado claro que o fator multicultural se aplicava apenas às culturas locais.

Anine Surui disse... [Responder comentário]

Aliás, pesqueira bombou no carnaval esse ano! Estava direto no NEtv!

Jean disse... [Responder comentário]

Acho que devem chamar de multicultural por causa dos polos e dos palcos pela cidade. Que neles tem mesmo multiculturalidade.
No carnaval de rua talvez seja melhor a restrição pra manter a identidade da festa. Frevo é a identidade do carnaval de recife. E também por que acho que seria desagradável uma mistura sonora de frevo com axé e funk por exemplo.
Eu me desistimularia bastante pra sair no carnaval. Por que frevo é, além de uma identidade cultural, uma música boa de se ouvir. O que eu não penso sobre o axé e o funk.

jéssica disse... [Responder comentário]

ei, cadê o desbloqueio mental? :(

carolfbm disse... [Responder comentário]

André, parabéns pelo post! Excelente!

Adorei mesmo!

estava com saudades de passar por aqui :*