12/31/2010

Réveillon


E lá se vai mais um ano. Quando eu era mais novo tinha na minha cabeça que anos pares eram os bons e os impares ruins, mas os últimos anos foram exatamente o contrário. 2010 se vai sem deixar nenhuma saudade em meu coração.

Claro que coisas boas aconteceram em minha vida nesse ano, porém as coisas ruins foram em bem maior proporção. Acaba se sobrepondo as coisas boas. Minha esperança agora não é nem por um 2011 melhor, minha esperança é para que na virada do ano, durante o foguetório, eu comece a acreditar que 2011 possa ser melhor.

Que de 2010 só fiquem as lições dos erros cometidos e que eu tenha inteligência e bom senso o suficiente em 2011 para não repetir todos esses erros.

E daqui pra frente, tudo vai ser diferente...

Obrigado a todos que visitaram o blog nesse ano, espero ter todos vocês aqui me dando atenção durante muitos e muitos anos. Vocês foram uma das coisas boas do meu 2010, digo isso de coração.

Feliz ano novo para todos, são os votos do seu amigão para todas as horas aqui.

12/23/2010

Purple haze


Lembro bem de um fato curioso em minha infância. Eu estava na 2ª série lá no CSD em Pesqueira, a aula era de Cidadania, no qual tínhamos um livro cheio de tirinhas onde em uma estava desenhada a situação correta e na outra uma situação errada do dia-a-dia da sociedade (por exemplo, em uma era um rapaz achando uma carteira e perguntando quem era o dono e na outra ele roubando a carteira).

O objetivo disso era que nós deveríamos pintar os quadrinhos com a situação correta a ser tomada. Eu fazia isso (eu acho), porém o "problema" era a maneira que eu pintava. Enquanto toda a turma pintava a calça do personagem de azul e a camisa de vermelho, eu fazia umas pinturas bastante psicodélicas. Ainda lembro da minha professora comentando com outra pessoa sobre as minhas "artes".

Fico pensando como seria a minha vida se desde cedo alguém tivesse investido na minha criatividade.

hahahahaha

Que viagem esse post!

(só depois de escrever isso foi que eu me lembrei que estou com febre)

12/20/2010

Selinho


Ganhei um "selinho" da Vi Lins e agora me sinto no dever de responder (quando ela me falou que tinha um "selinho" para mim no blog dela pensei logo que tinha uma nega se chegando em mim hahaha).

Fiz algo semelhante em 2008 no meu fotolog, e fiz um post recentemente bem semelhante. Vou tentar variar as respostas.

9 coisas sobre mim:

+Continuo não tendo estilo de cabelo definido (agora está na máquina, dias atrás estava todo cacheado);
+Ao todo já tive 7 fraturas no corpo em momentos diferentes;
+Coleciono camisas de times de futebol, ao todo tenho 16 dos mais variados times;
+Sempre que posso vou as missas aos domingos;
+Odeio Carlinhos Bala assim como odeio o mês de dezembro;
+Tenho duas irmãs, mais novas;
+Não vivo sem um alicate de unha ao meu lado (mal de quem roeu unhas por muito tempo);
+Quero seguir carreira na Polícia Federal;
+Eu não sou tão galinha/cachorro/safado/sem-vergonha como vocês pensam.

9 blogs que indico:

1. Ninguém é perfeito e o brega é assim
2. Ler é irreversível
3. Antologia
4. Sweet Dreams
5. Meus rascunhos e rabiscos
6. Sem palavras certas
7. Mulher super sapiens
8. Fragmentos de um inconsciente
9. Blog do Briboca

Missão dada é missão cumprida.

Fight Club


Você só será uma pessoa verdadeiramente livre quando toda sua esperança no amanhã se esgotar, pois assim você viverá sem expectativas, sem objetivos que te prendam, que tem impeçam de agir como bem entender. De agir da forma que te faça realmente bem, sem as amarras que o meio tem impõe.

Tema difícil de explicar, mas assistam Clube da Luta que vocês entenderam melhor.

Seja você mesmo e esqueça do mundo.

12/10/2010

O caminho suave


Eram exatas 20h11 quando ele saia de casa, nas costas amarrado por sua faixa branca o seu kimono azul de tantos treinos e lutas. Ia rumo a mais um treino. Além do seu wagi, ele carregava nas costas o peso de toda uma vida, ia treinar justamente para tentar aprender a se defender dos golpes que a vida insistia em lhe aplicar. Queria também aprender a cair sem se machucar tanto quando esse golpe fosse certeiro.

Mas em algum lugar dentro dele, ele sabia que ia treinar para apanhar mesmo, é o ônus por uma vida com tantos deslizes. Quem sabe assim ele não equilibraria seu karma. Ele só queria um pouco de paz interior. Mas essa semana tudo estava mais difícil, além dos fortes golpes que acabara de levar, contusões antigas voltaram a doer. Problema crônico que ele carregará consigo pelo resto da sua vida e terá que se acostumar com as dores que ela causam vez por outra. Não há gelo que alivie essas dores.

Calado ele segue, cabeça erguida. Nenhum grito de dor, nenhuma mão estendida pedindo ajuda para se levantar. "Se cair 10 vezes, levante 11" é o que se repete em sua cabeça, mesmo que essa voz cada vez fique mais baixa. Mas o relógio continua correndo e ainda há muito tempo de luta, desistir seria uma vergonha para aqueles que te ensinaram a ser forte. Então ele mais uma se levanta, mesmo que as vezes não saiba por que fez isso, sem saber onde está seu adversário. Só se levanta. E cai novamente. E fica de pé.

Dizem que aquilo que não te mata te faz mais forte, mas aquilo que não te mata de uma vez te mata aos poucos. Mas o que é a vida senão uma preparação para o fim? A partir do momento que você nasce você começa a morrer. O que te faz forte afinal de contas?

Hoje dedico essas palavras e minha vida ao meu avô Luiz que há 10 anos nos deixou e ao meu irmão André que essa hora estaria começando a preparação para o seu aniversário. Nem preciso dizer que o dia 10 de dezembro é o dia mais triste do ano para mim.

12/03/2010

Upside down


Essa semana eu comecei a treinar uma nova modalidade de luta, o Morganti Jujitsu, após a primeira aula fui pesquisar mais a respeito da parte filosófica dessa luta, afinal o Judô, o MJJ, antes de ser uma luta para mim é uma filosofia de vida. E logo de cara vi algo sobre ele que me deixou bastante satisfeito. No exame para a faixa-preta, aquele que está prestando o exame o faz usando sua faixa-branca (em todas as artes marciais a primeira faixa é a branca) como forma de mostrar que você lembra de onde veio, que você começou do zero e agora mesmo estando chegando no nível de perfeição você se mantém humilde.

Me identifiquei bastante com isso. Pouca gente sabe até porque eu não gosto de divulgar isso, mas a família da minha mãe é de origem muito humilde, porém de gente muito esforçada e graças a todo esse trabalho chegaram onde estão. Lá em casa, na minha família mesmo, já passamos por momentos muito complicados onde a maioria desistiria, mas superamos e hoje estamos melhor do que nunca, porém mantendo o mesmo estilo de vida simples da época que fomos morar em Pesqueira. É sangue de guerreiro nas minhas veias. Não divulgo esse lado da minha vida, porque não tenho orgulho de nada disso, não sou daqueles que adora gritar que já foi um fodido na vida. Tenho orgulho do que temos agora, lugar de passado é no passado, principalmente se for um passado ruim.

Mas esse mesmo sangue para quem é fraco pode ser um problema, a pressão que ele produz é absurda. Você carrega em suas costas o dever de ser sempre o melhor naquilo que você faz, e se teve outra coisa que eu aprendi nos tatames é que sempre haverá alguém melhor que você. Sempre. Até sua cabeça entender isso você vai levar muita queda e se levantar vai ficando cada vez mais difícil. Você acaba se sentindo desonrado por não está fazendo valer suas tradições.

Estou passando por um momento bastante tumultuado emocionalmente, estou me formando em poucos dias e vejo muitas nuvens em meu futuro. Sei que o caminho é o mesmo que minha família seguiu, o do trabalho duro, mas essas nuvens insistem em tirar toda a minha motivação/força.

12/01/2010

Relato de um morador do Alemão

Conforme eu avisei aqui anteriormente, eu disponibilizo o o meu blog para quem quiser postar seu texto ou indicar algum texto. Fico satisfeito com a participação de vocês.

Cláudia Alessandra enviou para o meu e-mail esse texto e acho que ele cairia bem com o blog. Pois bem, seu pedido é uma ordem, Cláudia.

Quem quiser ter seu texto publicado aqui é só mandar para o meu e-mail.

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O som no momento ainda é de tiro, talvez de calibres menores, pois aparentemente o confronto maior já cessou, se bem que eu aprendi que quando os tiros diminuem é que o perigo aumenta, porque essa é a hora que o morador da favela sai de baixo de suas camas, ou de seus abrigos de variações diversas, achando que a situação acalmou, e quando menos espera, bum! Volta o tiroteio de novo, sendo que agora os corpos estão de pé nos barracos, e o pior, despreocupados, e quando se está despreocupado é que o pior acontece, pelo menos no morro é assim, e já vi muito conhecido tomar tiro por causa dessa falsa sensação de paz. Ou seja, para se andar pelas vielas é preciso estar com o alerta ligado a todo tempo, independe do céu estar repleto de estrelas, ou infestado de balas traçantes.

Ah, perdão, nem me apresentei, é o nervosismo por causa da trilha sonora do horror. Para quem não sabe a trilha sonora do horror não consiste apenas em barulho de tiros; mixado junto aos tiros se encontram os latidos de cachorros, a gritaria (geralmente das crianças), e às vezes alguma voz gritando. Por conta desses fatores, comecei euforicamente a escrever e me esqueci de dizer quem sou, se bem que isso não tem muita importância, já que sou apenas mais um no meio da multidão favelada; igual a mim com certeza existem milhares, de mesma cor, de mesmo histórico familiar, de mesmos sonhos não realizados. Mas por questão de educação irei me apresentar mesmo assim.

Meu nome é Sebastião, é nome de velho, mas eu sou jovem, tenho 19 anos, herdei esse nome do meu finado pai, por isso os amigos e familiares me chamam de Júnior, me soa melhor, e para falar a verdade eu não tenho nenhuma cara de Sebastião, quando me chamam de Tião então, aí é que eu fico mais puto, minha mãe tem mania de me chamar assim quando faço algo que ela não gosta, mas não há nada que me tire mais do sério do que a guerra da hipocrisia, tipo essa que está rolando atualmente, e por isso resolvi escrever, não sei direito o porquê, mas como eu também não sei direito o porquê de tantas coisas, resolvi escrever assim mesmo.

Sou morador do morro do alemão, onde atualmente explodiu uma guerra, antes nunca vista no Rio, digo nunca vista, porque aparentemente dessa vez o objetivo é outro, e a causa também; afinal, por que antes de se falar em Copa no Brasil e olimpíada no Rio, nenhum Governo se preocupou em pacificar favelas? Antes o pensamento era: deixa esse povo se matar. Agora, pelo visto, a situação está um pouco diferente, pelo menos um pouco.

Nasci aqui, cresci aqui e vivo nesse morro até hoje, não sinto orgulho disso, mas também não sinto vergonha, afinal, teria eu, orgulho de quê? Vergonha de quê? É o que me resta morar aqui, é a única herança que tenho, o barraco que foi de minha avó e que hoje é uma humilde, porém aconchegante casa.

Por enquanto ainda não dá para morar no asfalto, mas não me sinto mais ou menos gente do que eles que moram lá em baixo; porém, me sinto mais digno do que alguns membros fardados que se dizem representantes do Estado, e que atualmente estão sendo aclamados como heróis por grande maioria da sociedade, aliás, nunca consegui entender direito os critérios que a sociedade em que vivo usa para escolher os seus heróis, talvez eu vá morrer sem entender.

Agora pouco fui à janela dar uma espiada no movimento do morro e pude ver alguns deles caminhando e ostentando seus armamentos e suas caras de mau, pude até ver alguns com os rostos pintados, como se tivessem preparados para uma verdadeira guerra do Vietnã, mas dessa vez os vietcongs a serem caçados não tinham cabelos lisos muito menos olhos puxados.

Pude ver no meio deles alguns conhecidos, eram poucos é verdade, já que a tropa invasora é formada em sua grande maioria por policiais de fora da área, mas os que puder reconhecer são frequentadores assíduos do morro, vira e mexe estão aqui para vender armas e até mesmo drogas que apreenderam em morros rivais, alguns eu vejo toda sexta-feira, pois é o dia que eles religiosamente comparecem ao morro para pegar a propina para que o baile funk possa rolar na paz. Eu sei disso tudo pois minha casa fica em uma área estratégica, posso dizer que moro numa linha imaginária do morro, pois a partir dali a polícia sabe que não pode subir, e desde que moro aqui poucas vezes vi eles passarem daquele local, a não ser em casos extremos, como quando morria algum repórter, e a mídia fazia pressão até encontrar o assassino, ou então agora, nessa guerra copeira e olímpica. E é por essas e outras que eu não consigo achar heroísmo nesses homens fardados que se dizem representantes do Estado, já que a maioria das armas que atualmente está sendo mostrada na TV como sendo apreendidas por eles não estaria aqui se os próprios não tivessem trazido e vendido para os próprios traficantes que agora estão caçando.

Às vezes a sociedade se pergunta quem financia todo esse caos, geralmente quem toma essa culpa é o viciado, mas eu sei bem quem é o verdadeiro financiador e quem sai lucrando com essa guerra.

Só que dessa vez está tudo diferente, os policias que antes eu via circulando no morro agora estão andando com policias federais, com militares do exército e marinha, não que eles sejam menos sujos, não que eles não fossem se vender diante de uma oferta tentadora de um traficante, mas eles não são daqui, e o momento é outro, agora o objetivo também é outro, antes eles vinham pra buscar dinheiro e fazer falsas apreensões para mostrar na TV que estavam trabalhando, e a população em sua maioria acreditava naquela cena toda, mas hoje não, hoje eles estão vindo para realmente fazer valer a presença do Estado (anos ausente), dá para perceber isso nos olhos dos soldados, dos policiais; se eu não fosse morador daqui até acreditaria que eles são realmente heróis, acho inclusive, que até eles estão se enganando achando que são heróis de alguma coisa, quando na verdade passam longe disso.

O fato deu estar criticando os policias não quer dizer que eu apóie os bandidos (estou me referindo aos traficantes), já que usar o termo bandido para discernir o policial do traficante pode ficar um tanto confuso, pelo menos para mim fica.

Criticar a polícia não consiste em um apoio ao tráfico, uma coisa não tem nada haver com a outra, já que para mim são dois imbecis lutando por nada, ou melhor, por interesses financeiros próprios que no final resulta em nada, só que por esse nada muito sangue escorre e muito inocente acaba morrendo. É a guerra do bandido X bandido, só que agora um bandido virou herói e o outro virou mais bandido ainda.

Quero estar vivo para ver esse morro realmente pacificado, pois polícia andando nas vielas e bandeira do Brasil fincada no alto do morro não quer dizer sinônimo de paz para mim. Quero estar vivo para ver o dia em que o Governo investirá pesado na educação, pois aí sim, as coisas poderão começar a mudar. Quero estar vivo para ver minha mãe poder vir dormir em casa todo dia sem se preocupar em ter que levar roupa para dormir no trabalho caso haja tiroteio no morro. Quero estar vivo para poder realmente apertar a mão de um policial e finalmente olhar dentro do olho dele e o ver como um verdadeiro e digno herói.

Por hora vou terminando este escrito, até porque a trilha sonora do horror voltou a tocar, e eu preciso me refugiar. A guerra de fato ainda não terminou, e está longe disso, sinto até pena dos que acham que agora a guerra terá realmente um fim.

Confesso que não estou com uma impressão boa, talvez por isso tenha resolvido escrever, pois apesar de estar no local mais seguro da casa, as balas estão cada vez mais ousadas, e não existe barreira para elas, talvez alguma me encontre hoje (aquela mesma que a mídia insiste em chamar de perdida), ou algum dia qualquer, sei lá; mas as minhas palavras permanecerão no papel, eternizadas enquanto o tempo não as destruir. Espero um dia poder abrir este papel para ler sobre um tempo não mais vivido, e poder finalmente escrever alegremente um texto de outro título. Esperarei ansiosamente pela chegada de meus verdadeiros heróis, e para eles terei o imenso prazer de escrever e dedicar a paz em primeira pessoa.

Rio de janeiro (purgatório da beleza e do caos) - 28/11/2010

Autor: Bruno Rico.